Godot está offline, mas o ChatGPT respondeu
Decidi inaugurar minha voz no blog da.Rizoma com algumas inquietações que me perseguem neste bonito sábado de manhã. Queria fazer isso porque essa foto merece entrar em algum post e alguém precisa falar mais diretamente sobre o polêmico ChatGPT. E só tenho a coragem de escrever aqui, pois sei que posso jogar esse texto lá na AI para arrumar quaisquer deslizes gramaticais que possam desmerecer o meu conteúdo. E falando nisso, posso garantir que tenha um conteúdo digno da leitura, no tamanho ideal para provocar uma reflexão no leitor no tempo de uma sentada no vaso. Percebem, que posso moldar o ritmo e chapiscar humor e piadelas sem que o texto perca o tom reflexivo e a fluidez, e ainda inadvertida e despretensiosamente, divirta.
Queria apresentar minha defesa. Sou canceriana e, atrevo-me auto intitular, artista. Por que isso é relevante? Cancerianos são notórios chorões, sim. Mas o ponto aqui é que também somos nostálgicos, românticos e demasiadamente apegados ao passado. Além de que minha faceta artística acredita em autoria, trabalho, reflexão, continuidade, inspiração, contato, conexão e sensibilidade. Um poderia dizer que eu poderia ser uma crítica implacável da inteligência artificial e os progressos desenfreados da tecnologia.
Talvez seja meu ascendente em aquário, mas eu amo o ChatGPT! Ele/ela/ elu (não sei) é como um secretário(a/e) executivo(a/e), capaz de organizar minhas ideias. Trazer referências cabeçudas, citando Fausto e Kafka. [Decidi aqui colocar o gênero feminino à voz do chatgpt (mas isso pode render um novo post).] É rápida, eficiente, com conteúdo científico, histórico, político. Pode advogar para agentes que você não tem contato no dia-a-dia. Amplia possibilidades, dá ideias, abre horizontes! Aiiii, chatGPT… Você é como uma amiga que frequentou Yale, com mestrado em Cambridge e Doutorado em Sorbonne. Mas, que não me provoca inveja com seus diplomas, prêmios, alto salário e uma família perfeita retratada no seu feed com fotos lindas, tomando Aperol em Santorini. Obrigada por existir.
E conforme você, ou eu - no caso, fui cavucando o chatgpt, percebi que ele [agora eu mudei de gênero porque é a parte desgostosa, fica mais fácil imaginar como ele], fala tudo que você quer ouvir. Coisas como “você tem razão", “você está certíssima", “verdadeiros dramaturgos são inquietos como você"... e um alerta começa a soar. Não sei se é síndrome de impostor… ou se é simancol. Mas eu sou escolada nesses alisamentos e lisonjas. Afinal, sou uma mulher de 35 anos.
O chatgpt vai até aqui. Ele é bom, realmente. Ajuda, de verdade. Joga luz sobre possíveis trevas de bloqueios criativos. Mas, pode ser parvo. Pode te jogar num looping que emula as suas próprias projeções ou prompts. Em 2025, pareço estar vivendo uma versão de Solaris, em que uma versão de mim (questionavelmente mais inteligente e com melhor autoestima) me devolve minhas próprias angústias. E o que vocês ainda não sabem, caros leitores, é que minha Lua é em Câncer. O enamoramento foi tipicamente aquariano e, portanto, fugidio. E eis que bate a bad… e quem está lá para lidar com ela é a canceriana emotiva, existencialista, vulnerável e intuitiva. E é quem vai dar o tom das conclusões finais deste post.
No último mês, entrei para um curso sobre Beckett. Um gênio profundamente assolado pela segunda guerra mundial. E por mais niilista, por mais que evidencie a decrepitude, o débil e o absurdo em suas peças, ele captura o humano. A angústia de estar vivo - que é a chama no meio de uma paisagem estéril. É um movimento interno que não consegue andar. É a inquietação que espera por Godot. É algo que não se encerra em si. É algo que continua por questionar. É a pergunta que vive, que ressoa, que respira, e cujas respostas do chatgpt, com uma ilusória humanidade, tenta sanar.
“They are spoon-feeding Casanova
To get him to feel more assured
Then they'll kill him with self-confidence
After poisoning him with words".
Desolation Row - Bob Dylan, 1965